22 setembro, 2004

Praxe?

O meu mais recente dilema: sou ou não a favor das praxes?
Como alguns deverão saber, eu não fui praxado quando entrei na faculdade uma vez que entrei 1 mês e meio mais tarde. Só este ano é que tive um contacto de perto com as praxes, que procurei acompanhar desde início.
No primeiro dia de praxes na minha faculdade pude observar as praxes que considerei boas. Aquelas divertidas, que não ofendem ninguém, com um ambiente desanuviado, com brincadeiras que entusiasmam os caloiros e os chamados “veteranos”. Neste dia os caloiros receberam apelidos, e respondiam, quando eram chamados, com uma alusão ao apelido. Aprenderam hinos do curso e da faculdade, tiveram “picanços” de cantoria com os caloiros dos outros cursos (onde se via o maior empenho e divertimento), foram às faculdades vizinhas provocar a malta de lá, ao almoço comiam com os garfos e colheres ao contrário, fizeram um show de cabaret divertidíssimo para todos, puderam conhecer a escola, cantina, tudo isto num ambiente divertido de pseudo-obediência aos veteranos, que só leva a que os caloiros travem conhecimento entre si, ganhem gosto pelo espírito académico (da forma que eu o entendo), se integrem de forma fácil numa nova etapa das suas vidas. Porém, e até agora foi o primeiro e último dia em que isto aconteceu. Ao 3º dia (ontem) infiltrei-me numa aula teórica dos caloiros e vi muitas coisas que não me agradaram nada. A professora faltou e o comando da aula foi tomado 6 ou 7 veteranos. Segundo um dos porta-vozes dos veteranos, os “jogos” que obrigavam os caloiros a fazer não lhes dava qualquer tipo de gozo ou divertimento (o que por si só dá pra ver que não têm piada nenhuma) mas que servem para os caloiros se integrarem, e outras tretas. Um dos “jogos” consistia em passar meio palito com a boca para o colega do lado. As filas estavam divididas em metade e quem acabasse primeiro escolhia o castigo para a outra metade. Tudo isto com rapazes ao lado de rapazes e as raparigas ao lado de raparigas. Os caloiros foram obrigados a fazê-lo várias vezes porque de umas vezes um fila tinha desconcentrado outra, outras vezes por outras tretas quaisquer. Consequências: divisão entre os que sofrem castigo e os que escolhem o castigo; constrangimento por ser difícil evitar o contacto de bocas; insatisfação generalizada. Tudo isto num ambiente quase ditatorial, que me é difícil explicar. Tudo numa arrogância patética. Ninguém se podia sequer rir e quem se risse levava uma reprimenda enormemente estúpida, passavam uma vergonha à frente dos outros. De notar que os veteranos que simpatizam mais com este tipo de parvoíces são os mais antigos. Coincidência ou não, não sei.
Agora vocês podem pensar “Epá, que cocó que este gajo é!” ou “Ninguém é obrigado a ser praxado!”. Pois bem. Acontece que o que vi ontem não me agradou a mim que estava de fora, imagino se me fizessem o mesmo. E de certeza que muitos caloiros ficam envergonhados perante os restantes, e o seu gosto pelo espírito académico só dali sai diminuído. Os mais tímidos são os que sofrem mais.
Quanto a não serem obrigados, é sabido que um caloiro se pode declarar anti-praxe. Porém também é sabido que um aluno anti-praxe é posto de parte: não pode ir a jantares de curso, não pode receber apontamentos dos mais velhos, etc. Um aluno é induzido a ser a favor das praxes.
Este foi apenas o meu primeiro contacto com as praxes, e só daqui a algum tempo conseguirei saber se sou totalmente a favor ou não das praxes. Houve muita coisa que gostei de ver e muita que não gostei.
Espero que contribuam com opiniões sobre praxes para a caixa de comentários. LR

Sem comentários:

Enviar um comentário