14 maio, 2016

Luta de Classes

Mais uma vez pego num tema do passado, sim, do passado, porque isto da luta de classes é uma coisa que hoje em dia já não faz muito sentido. Que classes? Já não há pobres nem ricos, hoje somos todos cidadãos de pleno direito neste mundo ou no Facebook pelo menos. E se não é esta ideia impingida que nos engana é o nosso próprio ego que se recusa a admitir que somos mais pobres que alguém, vivemos segundo a nossa ambição e não segundo a nossa realidade, queremos ser ricos, logo recusamos a ideia de sermos pobres.

O capitalismo vai usando isto com mestria contra nós e nem sequer percebemos.

Acreditamos em ideias que nos vão sendo plantadas no cérebro e que crescem como ervas daninhas e não paramos um segundo para perceber que aquilo que pensamos não é aquilo que pensamos e que na realidade pensar, pensamos pouco.

Mas a verdade é que a luta de classes e acima de tudo a consciência de classe faz tanto sentido hoje como fazia há quase 170 anos atrás.

Sem consciência de classe damos por nós a travar batalhas que não são nossas e a defender interesses que em nada nos beneficiam.

Tudo isto nos vai sendo injetado desde cedo, na escola, nos media e nos nossos postos de trabalho.
Toda esta mentalidade submissa nos é vendida como bom senso, quando é precisamente o oposto.

Quem no seu perfeito juízo defende o seu opressor?

Ou será que estamos todos a sofrer de Síndrome de Estocolmo?

O inimigo não dá tréguas, porque havemos nós de dar? Temos que defender os nossos interesses, os interesses da classe onde nos inserimos.
Os ricos nunca deixam de agir como ricos, não se esquecem de defender a sua riqueza!
Porque é que temos que ser nós a defender os interesses de quem nos mantém na pobreza, nos intimida e coage? Não temos!

O que temos que fazer é despertar, perceber o que nos rodeia e que ideias nos podem tirar deste buraco, não temos que acreditar que a austeridade nos estava a fazer bem só porque um orelhudo o diz na TV!


Temos que pensar! Saber quem somos e o que queremos! Temos um longo caminho pela frente… HC

02 março, 2016

Os Destiladores de Ódio

Com o advento das redes sociais começa a transparecer uma nova característica de alguns seres humanos.
Pessoas que anteriormente conhecíamos como educadas e simpáticas confrontam-nos agora com toda uma panóplia de intervenções odiosas e comentários de baixo nível.

Não me parece que seja uma nova característica, mas sim algo que estes indivíduos evitavam fazer pessoalmente junto dos seus pares, algo a que agora, no recato do lar, na segurança da sua cadeira, na inconsequência deste novo invento que é a internet, se permitem.

Todo este movimento de gente em conflito, conflito aparentemente inconsequente, torna a internet um sitio pior para se estar, pior do que alguma vez foi.
Antes a internet era mais escura, mas brilhava mais do que o faz agora sob o disfarce de layouts limpinhos.

Falta à internet a consequência de se estar frente a frente e sujeito a levar uma bordoada quando se diz uma barbaridade.

Sempre que acontece algo no mundo vêm os destiladores de ódio, cheios de si, comentar nas caixinhas brancas e limpas dos seus facebooks as suas mais sujas opiniões, as suas verdades, às quais estão sempre dispostos a juntar ameaças de agressão física caso alguém discorde.

Isto serve tanto para quem está do lado da intolerância como para quem está do lado da tolerância, pois à falta de melhores argumentos, ou à falta da capacidade de articular o que se pensa, os internautas juntam de imediato o seu argumento final, o ódio, a ameaça de violência, pois ao que parece já ninguém sabe discutir ideias, ninguém está preparado para dizer que errou e que o argumento do outro supera a lógica do seu, ninguém muda de ideias depois de uma conversa ou uma discussão.

Somos hoje uma sociedade de gente casmurra!
Gente que prefere partir para a violência a permitir que alguém lhe mude a forma de pensar.

É esse o legado que nos é transmitido também pêlos debates televisivos, em que ganha quem fala melhor, não quem tem a melhor ideia.
Então, os intervenientes munem-se de argumentos fortes e cortinas de ferro impenetráveis para que não sejam derrotados.
O resultado final é a vitória de um interveniente e a derrota de todos, pois o pensamento fica estagnado no meio de vários fortes argumentos, extremamente bem ensaiados e testados, mas que na realidade não servem para mais do que para ganhar uma luta de palavras.

Assim se transpõe essa ideia para as discussões nas redes sociais, todos intolerantes, todos certos que a sua ideia é a mais forte, ninguém disposto a ouvir ou ler o que alguém possa ter para dizer, em que o argumento do interveniente anterior serve apenas para construir o nosso contra-argumento.

E assim passam as pessoas os seus dias a destilar o seu ódio por tudo e mais alguma coisa, seja na defesa ou no ataque, mas nunca dando o braço a torcer sobre nada.
Será difícil que uma sociedade se una e evolua neste panorama, o que mais se produz nestas condições é intolerância e facções opostas, ao invés de se produzirem consensos e harmonia.


Criámos assim uma sociedade que se preocupa mais com aquilo que a separa do que com aquilo que a une, ficando assim fragmentada e sem capacidade de resposta colectiva aos desafios com que se depara. HC

28 janeiro, 2016

Corpo Nacional de Tabefes

Diariamente, por esse Portugal fora, assistimos às mais gritantes exibições de falta de civismo, estupidez na sua forma mais pura, falta de respeito pelo meio ambiente e pela natureza e, em suma, à total ausência de educação para a interacção numa sociedade civilizada, ou para residir na aldeia dos macacos que seja.

Face à situação actual, propunha a criação de um Corpo Nacional de Tabefes, que na minha ideia consistiria na criação de equipas bem treinadas de agentes incorruptíveis que discretamente patrulhariam as ruas, estariam presentes em estabelecimentos de prestação de serviços, parques de merendas, centros comerciais, etc… Um em cada esquina seria o ideal, mas sei que face ao panorama económico nacional, a única coisa que conseguiríamos pagar para ter em cada esquina seriam Salazares sem amigos.

A única acção que estes agentes iriam realizar seria a aplicação de um tabefe bem aviado, dentro dos trâmites legais, a qualquer perpetrador, sem explicações, sem reprimendas, uma singela bofetada com toda a força na face.

Estes agentes estariam sempre à paisana, pois o efeito surpresa seria essencial.

Mediante a infracção, o agente procederia à aplicação de diferentes tipos de tabefe, que variariam entre a lamparina nos queixos, à bofetada com um bacalhau seco nas fontes, mas posteriormente o castigo seria definido mediante o delito.
Um indivíduo que vem a conduzir sem cinto de segurança e depois estaciona num lugar para deficientes, logo à saída da viatura deverá levar com um gato morto na tromba até miar, isto apenas a título exemplificativo.


Como cidadão creio que esta medida seria um avanço civilizacional, uma vez que está comprovado que ninguém liga a reprimendas, multas ou reconhece alguma vez que errou, esta medida a curto prazo tornar-se-ia preventiva, pois para evitar levar uma lambada no focinho os cidadãos cumpririam as regras da boa convivência em sociedade e com o meio ambiente, que conhecem, mas que diariamente, no meu ver por falta de consequência, escolhem ignorar. HC

12 janeiro, 2016

Eu e o Meu Cavaquinho...

Tenho 30 anos e venho falar-vos de algo que me acompanha aproximadamente desde que me lembro de existir e ter consciência do que me rodeia.
O meu Cavaquinho, mas não sou egoísta, o Cavaquinho de todos nós afinal.

Era uma criança quando tomei conhecimento de que éramos governados por alguém e que esse alguém era o Cavaquinho, o nosso Primeiro-Ministro, depois também havia o senhor que andava de tartaruga, mas esse era mais como um Rei, era o Presidente da República, não me lembro de nada antes disso, apenas sabia que chamar fascista a alguém era o pior insulto de todos e que os do CDS eram fascistas.

E até ter dez anos os anos foram passando, uns melhor, outros pior, sei que os meus pais passaram períodos difíceis, alguns de nenhum trabalho, outros de muito trabalho e pouco dinheiro, de trabalho precário, de repressão de direitos e regalias adquiridos e sempre de incerteza no futuro, mais ou menos como os de hoje.

Em 1995 uma coisa era certa para mim, o Cavaquinho era mau, ninguém gostava dele! Mas ninguém mesmo! O tipo até o Carnaval tirou à malta! E isso é coisa que nem o Salazar fez! Só o Passos Coelho, mais recentemente…

Mas em 1995 tudo isso acabou, o Cavaquinho foi embora e não se voltou a ouvir falar muito nele, começou o tempo das vacas gordas para alguns, para nós as vacas mantiveram a linha, porque o dinheiro não esticava tanto para nós como parecia esticar para outros.

Quando o Cavaquinho se candidata para as eleições de 2006, para mim foi mais ou menos como a candidatura do Tino de Rans, não havia hipótese deste ganhar o que quer que fosse, ninguém gostava dele! Ninguém!

Ganhou… Comeu bolo-rei, segurou em cagarras…

E quatro anos depois ganhou outra vez… mas desta vez já não me surpreendeu muito porque já me tinha apercebido que os Portugueses são um bocado estúpidos e que as únicas coisas nas quais têm bom gosto e são exigentes é na Sardinha e na Entremeada. De resto comem qualquer merda!

Agora o Cavaquinho vai embora e ninguém gosta dele! Ninguém!
Mas quando falecer, em breve, vai para o panteão e disso não tenho dúvidas. HC


P.S. – Para quem lê na diagonal e tenha ficado a pensar que isto era uma estória sobre um instrumento musical, dá música, mas os instrumentos somos nós. O Cavaquinho é Aníbal Cavaco Silva!