02 março, 2016

Os Destiladores de Ódio

Com o advento das redes sociais começa a transparecer uma nova característica de alguns seres humanos.
Pessoas que anteriormente conhecíamos como educadas e simpáticas confrontam-nos agora com toda uma panóplia de intervenções odiosas e comentários de baixo nível.

Não me parece que seja uma nova característica, mas sim algo que estes indivíduos evitavam fazer pessoalmente junto dos seus pares, algo a que agora, no recato do lar, na segurança da sua cadeira, na inconsequência deste novo invento que é a internet, se permitem.

Todo este movimento de gente em conflito, conflito aparentemente inconsequente, torna a internet um sitio pior para se estar, pior do que alguma vez foi.
Antes a internet era mais escura, mas brilhava mais do que o faz agora sob o disfarce de layouts limpinhos.

Falta à internet a consequência de se estar frente a frente e sujeito a levar uma bordoada quando se diz uma barbaridade.

Sempre que acontece algo no mundo vêm os destiladores de ódio, cheios de si, comentar nas caixinhas brancas e limpas dos seus facebooks as suas mais sujas opiniões, as suas verdades, às quais estão sempre dispostos a juntar ameaças de agressão física caso alguém discorde.

Isto serve tanto para quem está do lado da intolerância como para quem está do lado da tolerância, pois à falta de melhores argumentos, ou à falta da capacidade de articular o que se pensa, os internautas juntam de imediato o seu argumento final, o ódio, a ameaça de violência, pois ao que parece já ninguém sabe discutir ideias, ninguém está preparado para dizer que errou e que o argumento do outro supera a lógica do seu, ninguém muda de ideias depois de uma conversa ou uma discussão.

Somos hoje uma sociedade de gente casmurra!
Gente que prefere partir para a violência a permitir que alguém lhe mude a forma de pensar.

É esse o legado que nos é transmitido também pêlos debates televisivos, em que ganha quem fala melhor, não quem tem a melhor ideia.
Então, os intervenientes munem-se de argumentos fortes e cortinas de ferro impenetráveis para que não sejam derrotados.
O resultado final é a vitória de um interveniente e a derrota de todos, pois o pensamento fica estagnado no meio de vários fortes argumentos, extremamente bem ensaiados e testados, mas que na realidade não servem para mais do que para ganhar uma luta de palavras.

Assim se transpõe essa ideia para as discussões nas redes sociais, todos intolerantes, todos certos que a sua ideia é a mais forte, ninguém disposto a ouvir ou ler o que alguém possa ter para dizer, em que o argumento do interveniente anterior serve apenas para construir o nosso contra-argumento.

E assim passam as pessoas os seus dias a destilar o seu ódio por tudo e mais alguma coisa, seja na defesa ou no ataque, mas nunca dando o braço a torcer sobre nada.
Será difícil que uma sociedade se una e evolua neste panorama, o que mais se produz nestas condições é intolerância e facções opostas, ao invés de se produzirem consensos e harmonia.


Criámos assim uma sociedade que se preocupa mais com aquilo que a separa do que com aquilo que a une, ficando assim fragmentada e sem capacidade de resposta colectiva aos desafios com que se depara. HC