Vieste
Disfarçado de liberdade
Cultivaste a ignorância
Fizeste acreditar que era igual
Que não havia mal
Que tanto faz saber o plantel do Benfica
Ou saber quem te rouba a dignidade.
Agora choras
Os objetos não preenchem o vazio
A promoção não vem e tu deste o litro
Não acreditas em nada
Apenas que deus é que manda
deus e o Patrão
Os políticos são todos iguais
E tenho alergia a palavras acabadas em ismo
Sentiram o sismo?
Para quê afinal
É tudo igual
A minha ignorância
O teu conhecimento
Para quê formar uma opinião
Há tantas à venda
Já preparadas e embrulhadas
Nunca tiveste um pensamento que fosse teu
Olhas para o mundo
Não percebes nada
Falta a luz
Foste atacada
Há sempre um monstro qualquer a quem culpar
E analisar é concordar
Perceber é estar a favor
És um diamante em bruto
Mais bruto que diamante
És inquilino do Platão
Condenas ou não condenas?
Depende não é?
Quando a claridade lhes escapa da pele
E o azul dos olhos dá lugar ao castanho
Aí a questão já é complexa
E tu disso não percebes nada
Ensino
Agora é formação profissional
Conhecimento é "know-how"
Precariedade é liberdade
Crise é oportunidade
Ganância é natureza humana
Fazem de ti um animal
Racional é narrativa
Pensas que vais ser rico
Até lá comes grão de bico
Defendes quem está no topo
Olha de lado a quem tem pouco
Vives nessa ilusão
Da lenga lenga do patrão
Consciência de classe?
Lá vem ele com o vocabulário usado
Agora é tudo horizontal
Ninguém manda em ninguém
Trabalhador é colaborador
Capataz é coordenador
Dás a chicotada a ti próprio
E trabalhas caladinho
E quando vier o esgotamento
Medica logo para a depressão
Porque a culpa foi tua
Não tens fibra de patrão
Vieste
Disfarçado de progresso
Fizeste de um povo libertado
Escravo do sucesso
Agora
Com a direita escancarada
Achas-te rebelde
Não sabes nada
A verdade está ultrapassada
És vítima da política moderada
Latifundiários da seara dourada
Agarrados ao poder
Não resolvem nada
E tu que vives sem saber
Piscas o olho a quem te quer comer. HC
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