Desloquei-me ontem à exposição ‘The Bodies’.
Os mais incautos, e que possuam lacunas graves no inglês, poderão pensar que se trata de uma exposição de bodies, a peça de roupa que foi o furor do princípio dos anos 90 e que consistia num híbrido de camisola e cueca de senhora (com botões de mola por motivos de osmorregulação), tudo numa única peça. Erro.
’The Bodies’, ou ‘O Corpo Humano Como Nunca o Viu’ (forma como poderia ter apresentado a exposição desde o início do post mas que não deixaria espaço para a piada dos bodies, extremamente bem esgalhada, diga-se de passagem) é uma exposição de espécimes humanos reais, que são exibidos após um tratamento muito específico, que não irei explicar, bastando que vão ao site, que nos permite visualizar todas as estruturas, desde órgãos grandes até as mais pequenas artériolas e, arrisco, mesmo capilares. Ou seja, uma data de mortos com as vísceras à mostra. Fora este o slogan e em vez de 165.000 visitantes teriam tido 1.000.000…
Como bom português, ou seja, como alguém a quem nunca dá jeito gastar 15 euros e quanto mais tarde os puder gastar melhor, desloquei-me à dita exposição no último dia, a 2 horas do fecho, no mesmo dia e à mesma hora onde o Benfica viria a obter a primeira vitória na Liga das Campeões, pelo que me podem desde já agradecer. Transporto comigo uma espécie de maldição, que é a seguinte: quando vejo o Benfica, o Benfica perde. Como bom benfiquista, evito ao máximo ver jogos, mas nem sempre aguento, e daí os resultados periclitantes (e consegui finalmente enfiar a palavra periclitante num post) do glorioso.
Voltando à exposição. A espera, e desconfio embora não querendo acreditar, que se deva ao último dia da exposição, redundou em hora e meia numa fila, num ambiente muito parecido ao de um funeral. Pessoas com ar soturno, com fome e cansadas, direi mesmo tristes, à espera para verem mortos. E no fim a acabarem a pôr em perspectiva a fragilidade das suas próprias existências. Porque é isso que ver corpos cortados, literalmente, às fatias faz. Eu como sou dos que gosta de pôr em perspectiva a fragilidade da minha própria existência, mas que nem por isso gosto de funerais, devo dizer que adorei a exposição, e que valeu a pena cada minuto na fila. E foi também por isto que escrevi este post: para fazer pouco de todos aqueles que por preguiça ou por pobreza não puderam ir à exposição. O que redunda (e acabo de cumprir o terceiro objectivo deste post: escrever duas vezes a palavra redunda, que parece rotunda quando estamos constipados) numa dúvida. Quando se quer fazer pouco de alguém, mas não muito, dir-se-á que se quer fazer pouco pouco?
Abandono assim a perpectivação da fragilidade da minha própria existência, abraçando esta dúvida não menos existencial. LR
Os mais incautos, e que possuam lacunas graves no inglês, poderão pensar que se trata de uma exposição de bodies, a peça de roupa que foi o furor do princípio dos anos 90 e que consistia num híbrido de camisola e cueca de senhora (com botões de mola por motivos de osmorregulação), tudo numa única peça. Erro.
’The Bodies’, ou ‘O Corpo Humano Como Nunca o Viu’ (forma como poderia ter apresentado a exposição desde o início do post mas que não deixaria espaço para a piada dos bodies, extremamente bem esgalhada, diga-se de passagem) é uma exposição de espécimes humanos reais, que são exibidos após um tratamento muito específico, que não irei explicar, bastando que vão ao site, que nos permite visualizar todas as estruturas, desde órgãos grandes até as mais pequenas artériolas e, arrisco, mesmo capilares. Ou seja, uma data de mortos com as vísceras à mostra. Fora este o slogan e em vez de 165.000 visitantes teriam tido 1.000.000…
Como bom português, ou seja, como alguém a quem nunca dá jeito gastar 15 euros e quanto mais tarde os puder gastar melhor, desloquei-me à dita exposição no último dia, a 2 horas do fecho, no mesmo dia e à mesma hora onde o Benfica viria a obter a primeira vitória na Liga das Campeões, pelo que me podem desde já agradecer. Transporto comigo uma espécie de maldição, que é a seguinte: quando vejo o Benfica, o Benfica perde. Como bom benfiquista, evito ao máximo ver jogos, mas nem sempre aguento, e daí os resultados periclitantes (e consegui finalmente enfiar a palavra periclitante num post) do glorioso.
Voltando à exposição. A espera, e desconfio embora não querendo acreditar, que se deva ao último dia da exposição, redundou em hora e meia numa fila, num ambiente muito parecido ao de um funeral. Pessoas com ar soturno, com fome e cansadas, direi mesmo tristes, à espera para verem mortos. E no fim a acabarem a pôr em perspectiva a fragilidade das suas próprias existências. Porque é isso que ver corpos cortados, literalmente, às fatias faz. Eu como sou dos que gosta de pôr em perspectiva a fragilidade da minha própria existência, mas que nem por isso gosto de funerais, devo dizer que adorei a exposição, e que valeu a pena cada minuto na fila. E foi também por isto que escrevi este post: para fazer pouco de todos aqueles que por preguiça ou por pobreza não puderam ir à exposição. O que redunda (e acabo de cumprir o terceiro objectivo deste post: escrever duas vezes a palavra redunda, que parece rotunda quando estamos constipados) numa dúvida. Quando se quer fazer pouco de alguém, mas não muito, dir-se-á que se quer fazer pouco pouco?
Abandono assim a perpectivação da fragilidade da minha própria existência, abraçando esta dúvida não menos existencial. LR
Sem comentários:
Enviar um comentário