Portugal dirige-se a todo o gás para o abismo social, com as mais absurdas privatizações em vista.
Para os mais desatentos ou para aqueles que lhes custa a acreditar que estão a ser enganados, tudo isto pode passar despercebido, é um facto, mas a verdade é que está em marcha, sem dramatismo, a destruição pura e completa do Estado!
Não pretendo entrar em detalhes maçadores, por isso vou enumerar apenas as áreas que estão à beira do abismo e onde o Portugal decidiu dar o passo em frente:
SAÚDE – Já vem do governo PS em que foi introduzido o conceito de USF (Unidade de Saúde Familiar), este novo tipo de centro de saúde, que muitos de vós podem já estar inseridos e nem sequer notar a diferença, introduz a possibilidade de privados administrarem centros de saúde de cuidados primários, tudo são rosas neste novos centro, mais vagas, mais facilidade de acesso, melhor acompanhamento, menos para quem fica sem médico de família.
Nas USF o conceito de utente sem médico de família não existe, mas por vezes os números de médicos da unidade não cobre toda a população, este excedente de utentes tem que depender da “caridade” de um centro de saúde tradicional vizinho que irá ter que criar condições para o atendimento destes utentes.
Até ao momento não tenho conhecimento de nenhuma USF administrada por privados, mas decerto não tardarão a aparecer, desde o momento que o investimento lhes pareça vantajoso.
O mesmo não pode ser dito dos Hospitais, onde já existem as parcerias público-privadas, que a olho nu pode parecer algo fabuloso, com o que parecem ser melhores instalações, melhores condições de acesso, tudo de bom portanto! A verdade é que todos estas vantagens derivam apenas do facto de funcionarem em instalações recém-construídas, não por a gestão privada ser melhor que a pública.
Até porque se a saúde é uma área que segundo os nossos governantes dá prejuízo, que interesse poderiam ter os privados senão a elaboração de contractos e acordos que prejudicam o estado, logo os contribuintes, por conseguinte os utentes, com o resultado final de um serviço em nada superior ao público e com custos mais elevados.
EDUCAÇÃO – Em relação a este tema, sobre o qual não estou tão bem informado, deixo-vos um texto que não é meu, mas que remete às origens desta ideia tão original que são os Cheques –Ensino:
"Tragédia em Nova Orleães, 2005. Enquanto o mundo assiste ao flagelo dos moradores com as inundações causadas por tempestades que estouraram os diques da cidade, o economista Milton Friedman apresenta no jornal The Wall Street Journal uma ideia radical. Aos 93 anos de idade e com a saúde debilitada, o papa da economia liberal das últimas cinco décadas vislumbrava, naquele desastre, uma oportunidade de ouro para o capitalismo: "A maior parte das escolas de Nova Orleães está em ruínas", observou. "É uma oportunidade para reformar radicalmente o sistema educativo". Para Friedman, melhor do que gastar uma parte dos bilhões de dólares do dinheiro da reconstrução refazendo e melhorando o sistema escolar público, o governo deveria fornecer vouchers para as famílias, que poderia gastá-los nas instituições privadas. Estas teriam subsídio estatal. A privatização proposta seria não uma solução emergencial, mas uma reforma permanente. A ideia deu certo. Enquanto o conserto dos diques e a reparação da rede eléctrica seguiam a passos lentos, o leilão do sistema educativo tornava-se realidade em tempo recorde." (A doutrina do choque)
Acredito que o paralelismo possa parecer exagerado, mas será?
Enquanto tudo isto acontece, estamos nós ocupados, compreensivelmente, em arranjar uma forma de pagar a renda, a próxima factura da luz, da água e no meio de tudo isto ainda conseguir ter alguma comida no frigorífico…
E por falar em contas, a Electricidade já foi privatizada e liberalizada, o que supostamente iria produzir competição entre empresas e consequentemente a redução de preços, mas pelos vistos não é bem assim…
A próxima será a Água…
Este plano tem tudo para ser bem-sucedido, a não ser que de repente o povo acorde! HC
Mais um bom texto.
ResponderEliminarNão deixas de ter razão no que diz respeito à saúde, pois a ideia do público-privada a mim nunca me convenceu muito, pois ou é público ou é privado, e como todos temos consciência a parte privada só se mantém com lucro...e mais não preciso dizer.
Em relação à educação tenho algumas reservas quanto ao cheque-ensino. A ideia em si, não deixa de ser uma boa ideia, no entanto sabemos que as ideias por vezes não funcionam tão bem quando passadas para a prática.
Acho que é daqueles temas que se devia debater e ver realmente se existe mais vantagens do que desvantagens para a população.
Para além disto, devia-se igualmente ver o que se passa com o custo dos livros, pois isto do ministério da educação em conjunto com as editoras mudarem todos os anos de livros tem que se lhe diga...ainda para mais quando se paga 200€ para adquirir os livros para um ano apenas.
Mas faltou falares de uma coisa que a mim me preocupa bastante...a justiça. Pois sem esta, a democracia, os valores e as nossas liberdades ficam severamente comprometidas.
Abraço.
O cheque ensino não é uma boa ideia, nem pode ser aceite, existem coisas que o estado não pode subcontratar, assim como a saúde o ensino é também uma delas. Se os pais querem meter os filhos em escolas privadas, acho que fazem muito bem, desde que tenham dinheiro para a pagar. Não sou eu que vou pagar isso! O cheque ensino torna a escola mais cara para todos, para que alguns possam ir para os colégios privados.
ResponderEliminarTens toda a razão em relação aos livros, que no momento nem me ocorreu. Deviam criar-se manuais para durarem cerca de 10 anos e um banco de livros nas escolas, assim, mais uma vez, quem quiser que os filhotes tenham livrinhos novos e tem dinheiro para os comprar, está à vontade, quem não tem poderá usar os da escola. Creio que isto seria o mais lógico, se o interesse não fosse mais uma vez enriquecer um lóbi, neste caso o das editoras.
Também tens razão em relação à justiças, que me escapou por completo... Mas para isso também conto contigo, que tens um melhor conhecimento da matéria para partilhares algumas ideias... fica o desafio!