Ser português é muito mais complexo do que se possa imaginar e todos
tendem a subestimar a nossa capacidade de enviar mensagens confusas.
Não tenho a certeza se é recente ou se sempre fomos assim, mas
parece-me que Portugal é um país que até a Freud deixaria confuso.
Tenho a certeza que todos já sentiram na pele os efeitos desta nossa
doença.
Seja no DJ que salta de Rage Against the Machine para Miley Cyrus, ou
quando ouvem, na opinião pública, aquela senhora desempregada de 47 anos a defender
o governo de Passos Coelho.
Ou até mesmo nas vossas próprias acções, quando andam deprimidos de
dia para brilharem à noite ou quando andam quatro anos a criticar um governo e
depois não vão votar ou votam nos mesmos.
Ou aquele fenómeno, que gosto de chamar “O Voto Fantasma”, em que se
sabe que 50% dos eleitores votaram num partido, elegeram um governo e assim que
eles começam fazer porcaria já ninguém votou neles!
Elegem-se governos só para depois se criticar!
Pois convenhamos, se a coisa corresse bem não tinha piada nenhuma!
Elegem-se governos só para depois se criticar!
Pois convenhamos, se a coisa corresse bem não tinha piada nenhuma!
Acho que existe uma grande falta de sentido crítico em relação a nós
próprios, se calhar vem do mimo excessivo que TV’s e políticos nos têm dado,
sempre a afirmar que o povo é soberano, que os portugueses sabem o que fazem,
que escolhemos assim ou escolhemos assado e até se prestam a tentar decifrar intenções
claras a partir de percentagens!
Mas aí entra mais um exemplo desta nossa maleita, somos tão senhores
do nosso nariz, tão conscientes do que fazemos e das decisões que tomamos que
não admitimos que ninguém nos chame a atenção das nossas falhas!
Ai de quem ouse criticar publicamente a Vontade Popular! É queimá-lo em praça pública!
E a grande verdade é que todos usam isso a seu favor, os políticos manipulam-nos
com isso, se votamos neles a vontade popular é inquestionável e soberana, se
não votamos neles foram os adversários que enganaram o Povo!
Coitadinho do Povo!
O Povo nunca erra!
Mas a verdade é que erra.
Erra e muito! Erra quando se deixa enganar. Erra quando escolhe ser
ignorante em vez de se informar e cultivar. Erra quando dá ouvidos a
comentadores, políticos e padres em vez de pensar pela sua própria cabeça.
Erra pois julga-se soberano, mas não faz nada sem ter à frente um
capataz!
As TV’s afirmam que nos dão aquilo que queremos ver, aquilo que vende!
E nós criticamos as TV’s, porque custa admitir que nos dão merda e nós comemos,
sorrimos e pedimos mais!
O Povo não é um ser abstracto! Não pode ser o termo que usamos para
descrever todos menos nós! Somo nós! Todos nós! O nosso dever é progredir
culturalmente e ser dignos das escolhas que nos são dadas a fazer!
E o que temos feito? Precisamente o contrário!
Temos regredido culturalmente, estamos numa era de tacanhez em vez de
progresso!
A verdade é que Povos Cultos são o único instrumento que permite
garantir Estados Verdadeiramente Democráticos, Progresso e a Construção de um
Mundo Melhor! HC